As manifestações nas ruas das principais capitais do
País neste domingo tiveram como característica o antigoverno e o antipetismo.
Por ora, deixa pelo menos um saldo: o enfraquecimento do governo Dilma Rousseff
e a inevitável necessidade de se recompor politicamente.
A presidente Dilma Rousseff saiu de uma eleição
apertada. Neste cenário, é natural uma dificuldade maior na governabilidade
dado o acirramento ideológico e a “gordura” adquirida pela oposição.
O deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) e o senador Renan Calheiros (PMDB/AL) à frente do Congresso Nacional (Foto: Reprodução) |
Soma-se a isso o pacote de medidas impopulares com
vista ao ajuste nas contas públicas. Não há outra fórmula senão um enrijecimento
da base política no Congresso Nacional, justamente o espaço político para que o
governo se segure para garantir as medidas necessárias ao ajuste fiscal e evite
que se superdimensionem os ecos da oposição.
Pois bem, a inabilidade na articulação política do
governo fez do Congresso Nacional um campo minado e perigoso. De maior aliado,
o PMDB passou a ser uma pedra no sapato capaz de impedir ações essenciais para
que o governo consiga cumprir o pacote de medidas econômicas.
O problema com os peemedebistas, que atingia a
Câmara dos Deputados, se ampliou e chegou ao Senado. A devolução da Medida Provisória 669/2015, que reduz a desoneração na folha de pagamento das
empresas, pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL), foi a “cereja”
no bolo de uma crise política, construída pela inabilidade política do atual
governo.
Neste caminho, foram sucessivos e graves erros nessa
relação. Como o de lançar candidato a Câmara dos Deputados e ver uma amarga
derrota para Eduardo Cunha (PMDB/RJ), que chegou ao comando da Casa sem ter na
conta nenhuma obrigação com o PT. Depois, a tentativa de isolar o PMDB, desidratando
diversas legendas numa articulação para o surgimento de uma nova legenda,
comandada por Kassab. Tentativa naufragada com o decisivo empurrão
peemedebista.
As quedas de braços com o PMDB serviram até aqui
para mostrar um “chavão antigo” e que muitos lamentam: “Não dá para governar
sem o PMDB”.
Desmobilização
Após deixar a eleição numa disputa acirrada e com um
potencial oposicionista, pronto para dar o grito, a política econômica adotada desmobilizou
setores da base da esquerda – como os movimentos sociais -, mobilizados pelo discurso
da campanha eleitoral de 2014. Justamente àqueles que polarizaram a campanha a
favor da candidatura petista, oferecendo o contraponto à ortodoxia econômica.
É exatamente esse conjunto de medidas econômicas em
busca do ajuste fiscal, o chamado “remédio amargo”, que ajuda a crescer a
insatisfação popular e vitamine os discursos antigoverno.
O movimento nas ruas neste domingo trouxe propostas dispersas. Da insana ideia de “golpe” na democracia para estabelecimento de um
regime ditatorial ao impeachment. Proposta
essa não encampada pelo próprio PSDB, que prefere ver sangrar o governo e,
consequentemente, o País. Sem os ajustes, a situação deteriorada da economia só
piora e a população sente o reflexo da pior maneira.
De efeito prático o que se vê é o enfraquecimento do
governo e a necessidade, agora ainda maior, de se recompor politicamente no
Congresso Nacional. Não há outro caminho a não ser negociar com o PMDB de Renan
e de Eduardo Cunha. A manifestação serviu, por ora, para aumentar a dependência
do PMDB, mesmo que envolto na crise da Operação Lavajato. O protesto jogou
Dilma no colo do PMDB.
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